sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Regina (parte 1)

       "Ah! Olhe todas essas pessoas solitárias"

      Disse Josh, mordiscando seu lanche sem vontade, sentado na grama enquanto observava os transeuntes. À sua direita o "velhocelo", violoncelo herdado do avô e que já não era de primeira mão quando chegou ao ancestral. À esquerda Eleanor tentava parecer profunda enquanto aceitava o convite de olhar os passantes; é difícil ser ou parecer profundo ao mesmo tempo em que se disfarçava a fome.

      Josh notou que ela almoçara apenas um biscoito. Um único biscoito. As mulheres comiam comedidamente, era verdade, conforme a boa etiqueta, algo sagrado para Eleanor, mas "dieta" era algo de que não se falava naqueles tempos e, certamente, a moça não precisava.

      "Pode me ajudar com o meu, por favor? Me sinto indisposto hoje."

      A moça sorriu como se assistisse ao por do sol, depois se conteve e agradeceu com ar de indiferença. Tomou o lanche delicadamente e comeu procurando não parecer afoita. Josh sorriu. Aquele sorriso era a ruína de Eleanor. Não me interprete mal. O sorriso não era nenhum tipo de ponto fraco, algo que a cativasse ou conquistasse. Era desesperadoramente terno. Infinitamente amável. Acolhedor como o abraço de um pai. "DE UM PAI!", ela repetia em seu íntimo. E, Deus, como doía. Só uma vez ela queria poder ver um sorriso de amor de menino. De carinho de namorado. Jamais o veria. 

      Comeram e retornaram à aula.

      Os dois jovens não teriam se conhecido se não fosse a caridade do Padre Paul L'Nom e seus cursos de música, ministrados gratuitamente na Paróquia de São Pedro. Josh não era de família rica, mas certamente vivia em círculos totalmente externos à realidade de Eleanor. Na igreja, no acolhimento de Pe. L'Nom e nas profunda harmonia das cordas foi que a amizade floresceu.

Continua em Regina (parte 2)

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